Comemorou-se esta quarta-feira, dia 27 de Janeiro de 2010, o 65º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polónia. Importa hoje, tal como sempre, lembrar às gerações actuais e futuras que existiram episódios na História da Humanidade que nos mancham de vergonha para sempre. Não só em respeito pela memória dos milhões de seres humanos que perderam barbaramente a sua vida em Auschwitz, mas também para que jamais esses tempos se voltem a repetir, importa condenar e lembrar uma das páginas mais negras da História. Como disse Gilbert Chesterton: Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.
O campo de Auschwitz foi construído e aberto em 1940 na Polónia ocupada, sendo pouco tempo depois ligado ao de Birkenau, a cerca de três quilómetros, e libertado a 27 de Janeiro de 1945 por soldados do Exército Vermelho Soviético que encontraram no local 7 mil sobreviventes, muitos agonizantes. É o maior símbolo do Holocausto, do genocídio, da Alemanha nazi e consagrado essencialmente ao extermínio dos judeus da Europa. O campo de concentração mantém-se conforme foi abandonado naquele ano de 1945, depois da vitória dos Aliados sobre a Alemanha Nazi de Adolf Hitler. Erguido para presos políticos polacos, o primeiro de três complexos alberga a inscrição “Arbeit Macht Frei” – em português, “O Trabalho Liberta” – triste recordação do crime sem precedentes. O segundo complexo, em Birkenau, contabilizaria, pelo ano de 1944, seis mil mortes por dia nas câmaras de gás, tornando-se no mais eficaz instrumento da “solução final”.
Além do milhão de judeus que ali foram mortos, as vítimas de Auschwitz incluíram também 70.000 a 75.000 polacos não judeus, 21.000 ciganos, 15.000 prisioneiros de guerra soviéticos e 10.000 a 15.000 outros prisioneiros, incluindo membros da resistência, segundo os dados do Museu Auschwitz-Birkenau. Existem também algumas estimativas que apontam para cerca de 1.5 milhões de mortos. Mais de seis milhões de judeus foram mortos no genocídio europeu, vítimas da perseguição nazi, durante a 2ª Guerra Mundial, entre 1939 e 1945.
A maioria dos prisioneiros chegava ao campo por comboio, com frequência depois de uma terrível viagem, em vagões de carga, que durava vários dias. A partir de 1944, estendeu-se a linha para que os comboios chegassem directamente ao campo. Algumas vezes, logo após a chegada, os prisioneiros eram conduzidos directamente às câmaras de gás. Noutras ocasiões, os nazis seleccionavam alguns prisioneiros, sob a supervisão de Josef Mengele, para serem enviados para campos de trabalho ou para realizar experiências. Geralmente as crianças, os mais velhos e os doentes eram enviados directamente para as câmaras de gás. Quando um prisioneiro passava pela selecção inicial, era enviado para passar um período de quarentena, após o que se lhe atribuía uma tarefa no próprio campo ou era enviado a trabalhar nalgum dos campos de trabalho anexos. Aqueles que eram seleccionados para exterminação eram enviados para um dos grandes complexos de câmara de gás/crematório nos extremos do campo. Dois dos crematórios (Krema II e Krema III) tinham instalações subterrâneas, uma sala para despir e uma câmara de gás com capacidade para milhares de pessoas. Para evitar o pânico, informava-se às vítimas que receberiam ali um duche e um tratamento desinfectante. A câmara de gás tinha inclusive canalização para duche, embora nunca tenha sido ligada à rede de água. Ordenava-se às vítimas que se despissem e deixassem os seus pertences no vestiário, onde supostamente poderiam recuperá-las ao final do "tratamento", recomendando-se que recordassem o número da localização dos mesmos. Uma vez selada a entrada, descarregava-se o agente tóxico Zyklon B pelas aberturas no tecto. As câmaras de gás nos crematórios IV e V tinham instalações na superfície e o Zyklon B era introduzido por janelas especiais nas paredes. Os corpos eram levados por prisioneiros seleccionados para trabalhar na operação das câmaras de gás e fornos crematórios (chamados Sonderkommando), para uma sala de fornos anexa, para cremação.
Entre as várias atrocidades e crueldades, conhecidas, cometidas contras os prisioneiros estão a fome, a sede, a média de peso andaria entre os 23 e os 35 kg, e o saque de todos os pertences. As vítimas podiam levar até 50 kg de bagagem, a qual era confiscada já na chegada em Auschwitz. Roupas, calçado, instrumentos de trabalho, objectos de uso pessoal eram simplesmente roubados, classificados e enviados de volta à Alemanha. Os objectos de maior valor, como dinheiro e ouro (também o ouro dos dentes das vítimas que eram arrancados a sangue frio para ser fundido e transformado em barras) eram enviados directamente ao Banco Central Alemão e não são raros os casos em que os soldados se apropriavam, imediatamente, de parte desses bens. Logo após a chegada, as vítimas eram obrigadas a despirem-se e a entrar na “sala de desinfecção” onde recebiam uma roupa padronizada, um número em forma de tatuagem no braço e o cabelo era cortado, armazenado e enviado para a Alemanha, como “matéria-prima” para a indústria têxtil e para aplicar no isolamento dos submarinos. Para ilustrar isso, quando as tropas soviéticas ocuparam Auschwitz, foram encontradas 7 toneladas de cabelo e uma infinidade de objectos das vítimas que ainda não haviam sido enviadas à Alemanha.
Quando o Supremo Comandante das Forças aliadas (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, etc.), General Dwight D. Eisenhower, encontrou as vítimas dos campos de concentração, ordenou que fosse feito o maior número possível de fotos, e fez com que os alemães das cidades vizinhas fossem guiados até àqueles campos e até mesmo enterrassem os mortos. E o motivo, foi assim justificado por ele:
“Que se tenha o máximo de documentação - façam filmes - gravem testemunhos - porque, nalgum momento ao longo da história, algum idiota vai aparecer e dirá que isto nunca aconteceu”.
6 comentários:
...infelizmente não foi só um idiota que apareceu a negar estes acontecimentos!
Pode parecer um bocado estranho....mas na minha adolescência li e reli todos os livros de e sobre Anne Frank e suscita-me muito interesse fazer a viagem aos sitios por onde ela passou, incluindo Auschwitz.
Não sei é se algum dia terei força para o fazer pelas emoções intensas que sei que me vai provocar.
Um dia quem sabe....
Liberdade...!!
Talvez por ter lido tanto sobre a vida dela, o diário dela....talvez este seja um dos factores que me leva a valorizar tanto a minha liberdade e a dos outros... Moksha!!
Lembro-me que quando estive em Amesterdão na casa da Anne Frank, vieram-me as lágrimas aos olhos.
Infelizmente o holocausto continua em muitos locais do mundo, onde o próprio "mundo ocidental" não quer ver, nem ouvir.
São locais distantes que pouco nos dizem.
Somália, Bangladesh, Sudão,Tibete,..........
Infelizmente não ficam na Europa e não têm recursos naturais.
Abraçus
Entrar numa Sinagoga, ver que todas as paredes estão cobertas de nomes das pessoas que morreram no campo de concentração de Terezin e mesmo assim não foi um campo como Auschwitz-Birkenau ou Treblinka. Ir ao Gueto Judaico e ver que os corpos eram enterrados uns em cima dos outros, o museu com montes de malas, sapatos, óculos e outros pertences das vítimas do holocausto, até dá um nó no coração, mas pior é ver os desenhos tristes, frios e negros das crianças, reflectindo as suas almas.
Shalom para todos!
Curiosidades:
1 - Na porta de entrada no campo tem a seguinte inscrição:
"Arbeit macht frei" - "o trabalho liberta"
O verdadeiro humor negro!!!
2 - Estrangeiro encomendou roubo de placa de Auschwitz
Ministério Público de Cracóvia anunciou que autor moral do roubo da inscrição "Arbeit macht frei" não vive na Polónia
"O principal responsável moral pelo roubo não vive na Polónia, nem tem nacionalidade polaca", anunciou o Ministério Público de Cracóvia, um dia depois de a polícia ter detido cinco suspeitos do roubo da placa "Arbeit macht frei" que encabeçava a entrada do campo de concentração de Auschwitz. A polícia polaca vai pedir ajuda aos vários países europeus para encontrar o comandatário do roubo.
Os responsáveis polacos mostraram pela primeira a inscrição depois de recuperada. E explicaram que os ladrões haviam retirado o "i" de "frei", última palavra da placa.
Após três dias em paradeiro incerto, a placa "Arbeit macht frei" que se encontrava por cima do portão de entrada do campo de concentração de Auschwitz reapareceu da segunda-feira. A polícia polaca deteve cinco homens suspeitos de terem roubado a inscrição, que terá sido separada em três partes diferentes para facilitar o transporte. Depois de interrogarem os homens, as autoridades concluíram que nenhum deles tinha ligações aos neonazis e terão, por isso, agido por dinheiro.
"Trata-se de ex-prisioneiros, anteriormente condenados por roubo ou por agressão", explicou aos jornalistas Andrzej Rokita. O comandante da polícia da região de Cracóvia garantiu que, "segundo as informações que temos, nenhum dos cinco suspeitos pertence a grupos neonazis e nenhum segue essa ideologia". Com cinco metros de comprimento, a inscrição tornara-se numa imagem de marca do campo aberto em 1940 pelos nazis na Polónia ocupada.
O desaparecimento da placa, na sexta- -feira, provocara muita emoção tanto na Polónia como na Alemanha, em Israel e na comunidade judaica em todo o mundo. O pessoal do museu de Auschwitz, que o roubo da inscrição deixara muito preocupado, não escondia ontem a sua felicidade. "É um alívio enorme. Os funcionários do museu viveram este caso de uma forma muito pessoal, o alívio, agora, é palpável", garantiu à AFP o porta-voz do museu de Auschwitz, Jaroslaw Mensfelt.
Dois dos suspeitos foram detidos num carro em Gdynia, no Norte da Polónia. Os outros três foram presos em sua casa, em Wloclawek. A placa esteve sempre guardada num esconderijo próximo da segunda localidade.
Os suspeitos têm todos entre 20 e 39 anos e enfrentam acusações de roubo e de terem danificado uma peça que pertence ao património mundial, fazendo mesmo parte da lista da UNESCO.
O chefe da comunidade judaica da Polónia, Piotr Kadlcik, e o grande rabino Michael Schudrich agradeceram à polícia a sua "reacção extremamente rápida" e disseram esperar que "quem encomendou este roubo seja também ele identificado".
A placa será devolvida ao museu, "o mais rápido possível". O limite são os 65 anos da libertação do campo de Auschwitz. Em 1940 e 1945, os nazis mataram ali mais de um milhão de pessoas, na larga maioria judeus.
Fonte: DN (22.12.09)
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